Wednesday, May 23, 2007

Poema/Cadáver

Foi um dia, e outro dia, e outro ainda
© Eugénio de Andrade, "As Poucas Palavras"

121 comments:

Avô Jorge said...

Cada dia nos possibilita uma nova imagem, para lá do final do dia.

dora said...

e o instante é a casa, o barco, a ida

Maria Eduarda Colares said...

Na margem, aguardava as 00 H do dia22, o dia.

Ouriço said...

O barco passou vezes sem conta diante dos seus olhos

Anonymous said...

E sem se dar conta da cor do céu naquele dia

O Pai said...

Branco, negro, azul, rosa ou lilás . . .

Avô Jorge said...

...as primeiras gotas chegaram.

Ana Paula Sena said...

anunciavam a hora de esquecer o que estava para trás...

Rita said...

e limpar tudo, por fora e por dentro, causticamente

Avô Jorge said...

mas...perante o ribombar dos trovões, apeteceu-me ouvir Jorge Palma e o seu piano...

L said...

o negro chovia-me nos dedos

Ouriço said...

cortou-se, pois, com o canivete suiço, precisava de um curativo

Avô Jorge said...

...mas Jorge continuava..."deixa-me rir"...

L said...
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L said...
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L said...
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L said...

deixa-me rir com as unhas fechadas nos bolsos, abjectas e podres

L said...

com lentas lágrimas negras

L said...

negras como a espuma que cai dos meus bolsos fechados

intruso said...

negras como o casco do barco que rompe a espuma fechada, barco que passou (e passa) vezes sem conta pela mesma água negra de lágrimas...

n©n said...

escorrem para cima como algo que cresce

Ouriço said...

como aquela planta estranha que ele sabia que ía ver no hospital!

Avô Jorge said...

...estranha? Mas sérá que se entranha?

GUGA ALAYON said...

Não seriam as entranhas? Pobres piranhas desta vasta nau!

Bandida said...

na margem do medo gritou o azul

dora said...

e rasgou, largo, o dia e o vento

L said...

e rasgou-se a camisa, sexy como o vento que passava, comi-o com os olhos, com os dentes, com tudo!!!!!!!!!!!

Anonymous said...

E no horizonte já se podia ver

intruso said...

,atrás de um outro horizonte rasgado o ontem e o barco que passava às 00 horas, e que aportaria no hospital para curar os cortes que as plantas e as lágrimas e o azul fazem

Bandida said...

e o anjo marcava as asas com o giz azul do poeta

fcorado said...

da mulher que pensava ser o que nunca foi sem sentir que estava presa por um cordel no tornozelo

Bandida said...

e doía o cordel, doía a mulher, presa num dia, e outro dia e outra dor tão forte quanto o mar

intruso said...

que doía também de tão azul e tão preso

dora said...

e depois nada ( nada e azul )

Ana Paula Sena said...

...e azul...e branco, nas margens de um novo dia errante, luminoso, agora tão perto, ontem tão distante...

n©n said...

distante de si, agora sem otites, sem dores de dentes, sem febre

L said...

sem esta febre que tapa as brechas dos dias, sem esta febre que grita mas não se ouve, sem esta febre que brota lava incadescente que não se vê, sem esta febre que não tem cura, sem esta febre

distante de si, distante de mim, distante

sómente distante

distante. ouviste?

O Pai said...
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O Pai said...

Não. A Rosa não ouviu.

Rosa cheiro, rosa cor, rosa mulher ou rosa flor...

Neves de ontem said...

rosa flor esquecida na memória dos cheiros.

Bandida said...

e o mar alcançava a nuvem que mordia o sol que aquecia a morte

GUGA ALAYON said...

E esta, tão aquecida , que esqueceu-se do não-existir

mariaterezaprado said...

no claro entre as espumas,

vague said...

lembrou-de da sua natureza
e mergulhou no mar.

Avô Jorge said...

Num mar de paixões e afectos que teima em se entornar.

Ana Paula Sena said...

E transbordar, vertendo o desejo nas suas mãos que afastavam agora os cabelos dela para lhe mirar melhor os profundos olhos azuis.

intruso said...

a entornarem azul

Neves de ontem said...

azul encontrado no Alentejo

Avô Jorge said...

cruzaram-se os olhos, depois as mãos e por fim os lábios. Ao fundo a planície alentejana...

Anonymous said...

E com esse mergulho, retoma as suas antigas aspirações....

intruso said...

a ser um corpo de verdade

GUGA ALAYON said...

num copo de vaidades

n©n said...

qual Alice do outro lado do espelho

Anonymous said...

eu ouvi chamar e vim espreitar ;)

vague said...

disse ela, o próprio reflexo de si própria a responder(se).

Neves de ontem said...

mas a figura se desvaece aos poucos do outro lado do espelho.

Ana Paula Sena said...

Porque o verdadeiro espelho é o outro onde se viu em reflexo no seu olhar perplexo...

Unknown said...

... emoldurado e gasto, cansado de calcorrear caras, gestos e vidas.

Bandida said...

cansada de camas e sexos e hábitos

Neves de ontem said...

à procura da poeira de outros caminhos ainda não olhados nem aborrecidos.

intruso said...

nem caminhados nem dormidos

Sibila said...

Apenas imaginados.
Caminhos fantasiados,
depois de mudar de rumo,
em busca de um elixir,
aquele, o da juventude
com o qual se pudesse sentir
de novo, um fresco sumo...

fcorado said...

saido dos pontos cardeais da nossa imaginação

intruso said...

que a razão não presta nem salva

Neves de ontem said...

mas vou caminhar de olhos fechados

Unknown said...

quero afastar a fadiga e conheço de cor tudo o que vejo pela primeira vez

Anonymous said...

com a idéia de que existe um novo, um inusitado, por vir...

n©n said...

por vir, por ver, por comer, por digerir, por sentir, por...

intruso said...

por morrer... por...

Avô Jorge said...

viremos a rosa-dos-ventos para o ponto cardeal da felicidade ... bolas. Já nos basta ser 2ª feira...

Unknown said...

feira da Ladra... preparada para nos roubar nais uma semana.
Tempo inútil roubado. Ou trocado por momnetos que vivemos o melhor que podemos.

Ouriço said...

Cristiano respirou e deitou-se. "Já chega", pensou....

n©n said...

as tunas e os escuteiros provocam alergia

Neves de ontem said...

alergia das flores de papel que vi em Campomaior, o ar envolvido pelas flores.

Anonymous said...

Isso sem falar desta luz misteriosa, através do vidro de cor âmbar, que ilumina o centro sa sala!

Ana Paula Sena said...

Um foco de luz especial como não se viu outro igual...

Unknown said...

nem parecido... azul de todos os tons, projectado em Sol Maior sobre colcheias prateadas...

Neves de ontem said...

colcheias prateadas a espalhar o luar por toda a parte.

dora said...

( E parte, depois, parte! )

n©n said...

os pratos depois de comer

Unknown said...

aquela massa fantástica pré-cozinhada e comprada no Lidl. É mais fácil assim, não quer ter trabalho. Não cozinha e parte a loiça depois de usada. Para a semana tem que voltar ao supermercado.

L said...

ofereço-te estas mãos. Toma-as.

Neves de ontem said...

Tomo-as, o qué vou fazer? As mãos perseguem-me pela cozinha.

L said...

não faças, deixa-as ir.

elas sabem, e sem pensar.

Unknown said...

lêem-nos o pensamento. E fazem tudo o que não nos apetece fazer, mesmo que a nós próprios. São o IT que nos coçam as costas e nos massajam o ego.

n©n said...

ego, Lego, pego, nego... NEGO!!!!

Anonymous said...

E por negar, acabo aceitando

O Pai said...

Sim, aceito o que quiseres. Afinal, o Francisco está a caminho de casa . . .

intruso said...

para destruí-la e começar de novo

n©n said...

de novo?
"Foi um dia, e outro dia, e outro ainda"...

Ana Paula Sena said...

Começar ou terminar, não importa. Assim que ele chegue, abro-lhe a porta. Depois se vê...

L said...

e outro, e outro, e outro, e mais outro. Ah máquinas infernais, parem esse matraquear de dias sem fim. Parem esse morrer e nascer incessante de coisas velhas.

Unknown said...

Párem tudo! Não suporto mais o tiquetaquear dos relógios avulso que medem o meu pulso a todas as horas. Quero o tempo parado na parada onde páram as pombas e as vidas das pessoas. Agora. Agora é perfeito parar o parir do tempo.

L said...

não sei as minhas mãos. dá-me as tuas. só aí me reconheço.

nelas não há tempo. nelas posso partir.

n©n said...

nelas posso partir, com elas posso partir... e partir-te...

Neves de ontem said...

o coração para começar o meu tempo outra vez.

Ouriço said...

e ir à minha vida, depressa, sem olhar para os lados, sempre com medo que aquilo apareça outra vez

Bandida said...

deixei os dedos na maré cheia. deixa que a sede me sustente.

L said...

deixa que a sede me sustente
repito vezes sem conta, até que me doa

Bandida said...

na garganta a palavra. e escave na dor o nó.

Anonymous said...

Por mais que êsses elos se juntem, não formam uma corrente segura, e homogênea.

n©n said...

nunca! Mais depressa te esqueci...

L said...

mas não me esqueci que tudo tem um fim. Mesmo a lucidez. A inesgotável lucidez.

Avô Jorge said...

...um fim que precisamos de tornar mais belo...

L said...

Gostava de ter uma morte bela.

Juntar dois momentos supremos. A Morte e a Beleza.

Ter uma vida bela é impossivel, não se pode prolongar o que é especial. Passaria a normal.

Rita said...

Mas então também a morte não pode ser bela... ou não pode ser eterna...

Neves de ontem said...

eterna, eterna, eterna..
onde o tempo e o espaço sejam esquecidos para sempre...

Unknown said...

mas, se o tempo e o espaço forem esquecidos, a eternidade deixa de fazer sentido... Porquê matar o que devia durar para sempre?

Ana Paula Sena said...

Ressuscitar o tempo e o espaço, fugir à eternidade que cansa, voltar a viver só com a esperança... de sentir sempre alguma coisa de bom. Será possível?

Avô Jorge said...

A impossibilidade depende da nossa imaginação. Por isso só nos resta viver esperançado.

Anonymous said...

Esperando e sonhando. Nas piores épocas da vida, sonhar é preciso.

Unknown said...

E só a certeza da existência da morte faz viver em nós a esperança...

n©n said...

ALEGRIAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!

Anonymous said...

....e por que não? Só com muita alegria..

L said...

e o desespero? ...

Anonymous said...

Esse passa!

Neves de ontem said...

Nem sei se olhar com o olho do desespero ou com o olho da alegria. Tenho de esquecer um, mas qual?

n©n said...

os dois!

L said...

desejos esquecidos são a minha glória
início e fim

Anonymous said...

Vamos falar um pouco do início.

Unknown said...

Do início? Para quê voltar tão atrás? Nem já do meio se deveria voltar a falar. E porque não esquecer todos os finais? A não ser que fales de novos princípios, de futuros a seguir.